sábado, 20 de junho de 2015

Semeando

Dona Angélica era professora. Residia em uma pequena
 cidade e dava aulas numa vila próxima.
Não era considerada uma pessoa equilibrada em razão
 do seu comportamento, que parecia um tanto
esquisito.
Os alunos da escola de primeiro grau tinham-na como
 uma pessoa muito estranha.
Eles observavam que a professora, nas suas viagens
de ida e volta do lar à escola, fazia gestos e
movimentos com as mãos, que não conseguiam entender,
 e por esse motivo, pensavam que ela era
meio fora do juízo.
Pela janela do trem, dona Angélica fazia acenos com
o se estivesse dizendo adeus a alguém invisível
aos olhos de todos. As crianças faziam zombarias,
criticavam-na, mas ela não sabia,
pois os comentários eram feitos às escondidas. Todos
 inclusive os pais e demais professores,
achavam que ela era maluca, embora reconhecessem que
era  uma excelente educadora. 
Os anos se passavam e a situação continuava a mesma
.
Várias gerações receberam, da bondosa e dedicada professora, ensinamentos valiosos e abençoados.
Dona Angélica era uma pessoa de boas maneiras, calma
 e gentil, mas não muito bem compreendida.
Envelhecia no exercício do dever de preparar as
crianças para um futuro melhor, com espírito de
abnegação e devotamento quase maternal. 
Certo dia em que viajava para sua querida escola,
com diversas crianças na mesma classe do trem,
movimentava, como sempre, as mãos para fora da janela

Os alunos sentados na parte de traz sorriam
maliciosamente quando Alberto, seu aluno de dez anos,
sentou-se ao seu lado e, com ternura lhe perguntou:
- Professora, porque você insiste em continuar com
essas atitudes loucas?
- Que deseja dizer, filho? Interrogou, surpresa, a
bondosa senhora.
- Ora, professora - continuou ele, 
- você fica abanando as mãos para os animais ou...
Isso não é loucura? 
A mestra amiga compreendeu e sorriu. Sinceramente
emocionada,chamou a atenção do aluno,
dizendo:
- Veja minha bolsa - e apontou para a intimidade do
 objeto de couro forrado.
- Nota o que há aí dentro?
- Sim - respondeu Alberto.
- Eu vejo que há algo aí, mas o que é isso?
A professora respondeu calmamente:
- É pólen de flores. São pequenas sementes...
- Há quase vinte anos eu passo por este caminho, in
do e vindo da escola.
A estrada, antes, era feia, árida, desagradável.
- Eu tive a idéia de a embelezar, semeando flores.
Desse modo, de quando em quando, reúno sementes de
belas e delicadas flores do campo e as atiro
pela janela... 
- Sei que cairão em terra amiga e, acarinhadas pela
 primavera, se transformarão em plantas a
produzirem flores, dando cor e alegria à paisagem.
- Como você pode perceber, a paisagem já não é mais
 árida.
Há flores de diversos tipos e suave perfume que a
brisa se encarrega de espalhar por todos os lados.

 
 
 

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