Piedosa mulher, desejando ser mensageira do Reino Divino na Terra, bateu às portas do Paraíso, rogando trabalho.
Foi atendida, por um anjo que lhe recomendou visitasse uma Taberna para salvar homens bons, que se haviam deixado embriagar, por amigos inescrupulosos.
No dia seguinte, porém, a enviada reapareceu, chorosa, explicando ao anjo que lhe fora impossível atender-lhe as determinações, porque o recanto indicado era repleto de jogadores a trocarem insultos obscenos e cruéis.
O anjo, então, mandou-a a um esconderijo em floresta próxima, a fim de socorrer uma criança desamparada.
No outro dia, volta a emissária alegando que não lhe fora possível o trabalho, porque ali ocultavam-se vários homens e mulheres seminus a lhe ferirem o pudor feminino.
O anjo, sem desanimar, designou-a para auxiliar uma senhora agonizante, mas, poucas horas depois, volta a mulher ruborizada, ao ponto de origem, informando de que não pudera nem mesmo penetrar o quarto da enferma, porque ouvira o esposo da doente, conversando com certa mulher de baixa procedência, tramando um assassinato.
O anjo embora com algum desapontamento, determinou-lhe o auxílio a dois homens dementes situados em extenso vale.
No dia imediato, a mulher retorna célere, esclarecendo não conseguira alcançar o objetivo, porquanto os loucos viviam impressionados com cenas de vida impura, e lhe causaram repugnância.
O anjo, depois de ouvi-la com manifesta estranheza, pediu-lhe amparar uma jovem que se achava em perigo, mas em breve regressa a mulher, exclamando que a criatura mencionada podia ser vista numa festa desregrada, em repulsiva condição moral.
E assim sobre variados pretextos, atravessou a semana inutilmente. Todavia, procurou novamente o anjo para solicitar-lhe serviço.
Ouviu dele a exortação de que se fizera merecedora:
- Minha irmã, continue, por enquanto desenvolvendo seu esforço nas vulgaridades da Terra.
- Oh! e por que? - indagou, perplexa - Não mereço trabalho na vida mais alta? - Seus olhos estão cheios de malícia - elucidou o anjo, tolerante - , e, para servir ao Senhor, o servo do bem purifica o escândalo, com amor e silêncio, sem se escandalizar.
Quem se demora na contemplação do mal, não está
em condições de fazer o bem.
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