segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Um tempo para ficar sozinha

      
  Tudo o que eu precisava nesta manhã era alguns minutos sozinha. Meia horinha de paz e quietude iriam ajudar muito a preservar minha sanidade. Nenhum "mãe, faz isto", "mãe, preciso que", "mãe, ele me bateu" ou "mãe, derramei suco no sofá".

        Apenas eu, um banho quente e nada mais.

        Mas eu não devo sonhar tão grande. Logo depois de mandar os dois mais velhos para a escola, eu coloquei o mais novo na frente da televisão para assistir os Flintstones e eu lhe disse,
        - Querido, escute bem de pertinho. Sua mãe está quase explodindo. Ela está pirando. Ficando maluquinha de tudo. Isto é porque ela tem crianças. Você está me entendendo?

        Acenou concordando mas totalmente ausente.
        - Bem. Agora, se você quiser ser um bom menino, você vai ficar sentadinho aí assistindo televisão enquanto mamãe vai tomar um agradável, quente, quieto, calmo banho. Eu não quero que você me incomode. Eu quero que você me deixe sozinha. Por trinta minutos, meia horinha só, eu não quero te ver e nem te ouvir. Combinado?

        Novo aceno concordando.
        - Meninos e meninas... Bom dia! Eu ouvi o inicio do programa infantil.

        Me dirigi ao banheiro com dedos cruzados.

        Fiquei olhando a água enchendo a banheira. Dei uma olhada no espelho. E entrei na banheira.

        Ouvi batidas na porta.
        - Mãe? Mãe? Você está aí dentro, mãe?

        Eu aprendi há muito tempo que ignorar minhas crianças não faz com que desistam.
        - Sim, estou aqui dentro. O que você quer?

        Houve uma pausa enquanto a criança tentava se decidir o que queria.
        - Um... Posso comer sucrilhos?
        - Você acabou de lanchar! Não pode esperar alguns minutos?
        - Não, estou morrendo de fome!
        - Tá bom, Pode comer a caixa toda.

        Eu o ouvi correr até a cozinha, escutei quando empurrou a cadeira para tentar alcançar a prateleira, a batida no chão quando pulou da cadeira e o ouvi correr para a sala da tevê.

        Toc, Toc, Toc...

        - Mãe? Mãe? Você está aí dentro, mãe?
        - Ah... Sim, eu ainda estou aqui dentro. O que você quer agora?

        Pausa.
        - Um... é que eu preciso tomar banho também.

        Certo, desde quando...
        - Querido, você não pode esperar que eu termine?

        A porta abriu apenas um pouquinho.
        - Não, eu preciso tomar banho agora. Eu estou sujo.
        - Você está sempre sujo! Desde quando você se importa?

        A porta abriu toda.
        - Eu preciso mesmo tomar banho, mãe.
        - Não, você não precisa. Tchau!.

        Ele já estava no meio do banheiro tirando seu pijama.
        - Eu vou entrar aí com você e tomar banho também.
        - Negativo! Você não vai entrar aqui comigo e não vai tomar banho! Eu quero tomar meu próprio banho! Eu quero que você saia e me deixe sozinha!

        Eu comecei a parecer a criança de três anos com quem eu discutia. Ele escalou a borda da banheira e disse,
        - Vou só ficar aí no cantinho te ajudando, tá bom, mãe?

        Eu comecei a gritar,
        - De jeito nenhum! Não tá bom! Eu quero meu próprio banho, só pra mim! Eu quero ficar sozinha!

        Pensou por um momento e disse,
        - Tá legal! Então eu fico sentado aqui e você pode me ler uma história. Eu não vou entrar, mãe, até que você acabe.

        Deu um piscadinha e um sorriso charmoso.

        E foi assim que passei meu tempo "exclusivamente sozinha", lendo uma história de peixinhos para um garoto de três anos, pelado, sentado na borda da banheira, com o queixo apoiado nas mãos, cotovelos sobre os joelhos e um sorriso mais que sem vergonha no rosto.

        Aposto que esta história lhe soa familiar.

        Para que lutar? Não tardará e teremos muito tempo para ficar a sós. E então, com toda a certeza, fará muita falta não ter ninguém "perturbando" na banheira.

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