Quando criança eu tinha a mania de me sentir sempre injustiçado. Por um
ou outro motivo, não me tinham feito justiça, sem perceber que, para mim,
a "injustiça" era sempre qualquer restrição feita aos meus desejos, fantasias
e vontades. E invariavelmente arrebentava em lágrimas de protesto.
Um dia papai me chamou e disse:
- Meu filho, vamos combinar uma coisa. Você sabe que papai não gosta de
ver você triste, não é? Então nós vamos fazer o seguinte: cada vez que você
chorar, escreva num papel a causa, coloque o papel no vaso azul, ali, sobre
a escrivaninha. Deixe passar alguns dias e leia-o. Se achar que o assunto
ainda o está aborrecendo, venha a mim, conte-me o caso e eu lhe prometo
que corrigirei a injustiça que tiverem feito contra você. Combinado?
Estava combinado. Nos primeiros dias eu enchi o vaso azul de anotações.
Passadas no preto e branco, minhas queixas me pareciam perfeitamente
justificadas.
Passaram-se os dias e meu pai voltou a falar comigo.
- Você já pode começar a reexaminar os seus papéis. Depois venha falar
comigo.
Comecei. Mas, estranhamente, constatei que minhas queixas eram banais e
que, na realidade, não havia naquilo nada que pudesse motivar
aborrecimento.
Abreviei o espaço dos dias e, depois, passei a examinar os papéis horas
depois dos acontecimentos. Verifiquei que não tinha nenhuma injustiça a
exigir a reclamação de papai. E parei de chorar várias vezes ao dia, como
estava acostumado a fazer.
Hoje compreendo que tudo foi uma brincadeira de papai. Todavia, com
grande habilidade ele me levou a refletir antes de agir. E desenvolveu em
mim a compreensão, o respeito do que é justiça e injustiça em face do
nosso egocentrismo, exigência de privilégios e pretensões descabidas.
Com isso meu espírito de tolerância ganhou uma amplitude que me tem
beneficiado ao longo de toda a vida.
***
É de grande sabedoria a atitude deste Pai, "brincando" ensinou valores
morais ao filho de uma forma consciente e com um aprendizado leve.
Precisamos também prestar atenção em nós, nas nossas exigências para
com o outro e com as nossas pretensões muitas vezes descabidas ou
exageradas, observando nossas atitudes ou ações antes agir.
AUTOR DESCONHECIDO
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