quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ato de confiança: Abrir a janela


Fui eu que pintei o céu. Este foi o mais fácil. Nem precisei usar pincel, já que joguei na tela um preto azulado e fui fazendo gotículas de branco em meio à tela. Depois me sentei frente à bela pintura e fiquei pensando no que me faltava pintar. Pintei então uma estrela maior – que pode até não ser uma estrela, mas pra mim será – bem maior do que as outras. Deixei-a no sempre da imagem. Tão linda tão bela. Pintei a lua, mas não o Sol que a ilumina todas as noites.
Fui eu que pintei a primeira rosa. Foi coisa de momento, tentei desenhá-la num papel a parte e ficara bonito, quer dizer, ficara linda a minha rosa. Portanto, passei-a para a tela. Primeiro a rosa, vermelha, o melhor vermelho que pude encontrar. Era como se as pétalas saíssem da tela, se não saíram perderam a oportunidade. Cada folha e espinhos também. Sim, pintei os espinhos para que ninguém roubasse minha rosa. Contudo, não pintei quem um dia iria cortá-la. Dá-la a amada que por fim jogaria minha rosa fora, ou deixaria envelhecer dentro de um caderno ou de um vaso qualquer. Não, não desenhei quem tiraria a minha rosa de mim.
Fui eu que fiz o primeiro sorriso. Naquela época as pessoas não sabiam o que era sorrir. Aprenderam comigo, quando as pintei felizes. Neste caso, acho que nem felizes aquelas pessoas eram. Nem o homem que roubou minha rosa e a deu a sua amada, nem o Sol que deixei de pintar. Fui eu que mostrei o primeiro sorriso. Mas veio um moço e disse que nunca mais a desenhasse. Nunca mostrasse a felicidade num lugar onde ninguém queria rir. Mas qual o problema de desenhar um sorriso, moço? Qual o problema de sorrir? Disse-me que ninguém é feliz o tempo todo e quem consegue tamanha destreza por um longe tempo, a pessoas depois se machuca com total falta de felicidade. Tentei rebater dizendo que poderíamos sorrir sem nos machucar, mas ele somente levantou-me a mão e disse que não sorrisse mais. Nunca mais.
Não pintei o céu. Não desenhei a rosa e nem dei o primeiro sorriso. Mas às vezes, só às vezes – você somente precise abrir a janela e deixar que a vida te mostre o que você não desenhou, mas que fora desenhado para que você admirasse.
AUTOR DESCONHECIDO

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