segunda-feira, 27 de junho de 2011

EU VI...


Manhã fria e cinzenta em São Paulo. No corre-corre do transeuntes, cada um com suas preocupações, um mendigo destoava dos engravatados que seguiam rumo ao trabalho.
Idade indefinida, cabelo desgrenhado, dentes estragados, roupas encardidas e rotas, a pele cheia de crostas negras denotando que aquele corpo não via água e sabonete há muito tempo. Afastava todos de perto de si por causa do mau cheiro que exalava.
Traído pela sorte nesta vida, sem dinheiro, sem estudo, sem dignidade, morador de rua sem eira nem beira.
Esfarelava um pedaço de pão duro com os dedos imundos e os deixava cair para os pombos da praça.
Indiferentes à sua aparência grotesca, as aves se aproximavam e bicavam com satisfação as migalhas que abençoadamente caíam ao chão.
Ele estava no mais baixo grau da degradação humana, mas ainda era capaz de doar...

Autor: Ivana Maria França de Negri

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