terça-feira, 17 de maio de 2011

A (in)tolerância


As flores toleram as abelhas, mesmo se estas lhes tiram o néctar, mesmo se, por vezes, por acidente, uma pétala se machuca.
A natureza tolera os ventos que arrastam folhas e quebram os galhos, tolera as torrentes e correntes que não perguntam o que carregam na sua passagem. 
A própria lua tolera as mudanças e acolhe serenamente cada fase com dignidade.
Só nós, humanos e racionais, somos assim intolerantes com a vida, com o próximo, com o que nos acontece, com o que deixa de nos acontecer, com as diferenças e os diferentes que mal suportamos.
Damos de nós e queremos ficar inteiros; recebemos e queremos continuar os mesmos, abastados do nosso eu, sem as máculas dos pecados que nos deixariam iguais a todo mundo.
Queremos amar o que nos é próximo, pois que nos disseram "ama a teu próximo" sendo que esse outro deve ser uma correspondência daquilo que somos. O que é diferente nos decepciona e nos faz sofrer.
 Por isso cobramos tanto dos outros e permitimos que essa negra nuvem encha nossa alma de tristeza ao depararmos com ações e reações diferentes das que esperamos.
Mas não é amar tolerar que o outro seja outro e aceitar com resignação e alegria até que, mesmo nos possíveis deslizes, esse encha nossa vida de  novos ares e novas flores?!
A tolerância é uma incontestável prova de amor e de humildade; é o eu que se inclina para se reerguer mais rico, mais pleno, mais aberto, mais solto e mais livre.
Mais livre!!! E por isso mesmo mais feliz!
Ser flexível na vida não é se curvar. É simplesmente abrir-se como abrem-se nossas janelas para que o sol entre e ilumine nosso recinto. É um ceder que nos enobrece, pois nos permite degustar da vida nos seus mínimos detalhes.
 
Letícia Thompson

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