segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sair debaixo da mesa


“Caríssimos, amemos-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho &uacu te;nico, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. Nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo. Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. Nisto é perfeito em nós o amor:”( I João 4, 7-17)

Deus só pode alguma coisa em nós quando somos capazes de olhar as situações com amor.

Na sua infância você já quebrou alguma coisa de sua mãe e ficou com medo de que ela descobrisse; e se enfiou debaixo da mesa para poder esconder? Comigo isso sempre acontecia. Quantas vezes nos escondemos das situações debaixo da mesa. O medo é tão maior do que o que pode acontecer conosco, que preferimos nos esconder. Mas vai chegar um momento em que teremos que enfrentar as dificuldades, as nossas fraquezas, os nossos erros.
Lembro-me de minha mãe diante do presépio que havia ganhado de minha avó, aquilo era de muito valor para ela, pois foi minha avó que lhe tinha dado. Quando o presépio estava pronto, nunca podia tocar, mas quando eu estava maiorzinho, minha mãe permitiu que eu pegasse o Menino Jesus. Um dia na sua ausência me achei cheio de autoridade para carregar o Menino Jesus e saí para mostrar ao meu vizinho. No meio do caminho comecei a correr e deixei o Menino Jesus cair e na ânsia, na pressa, peguei-o do chão, e continuei a minha empreitada para chegar à casa do meu vizinho. E quando mostrei a ele, disse-me que era bonito, mas estava sem a cabeça. Desesperado, voltei ao lugar onde tinha caído e procurei pela cabeça, sendo ajudado pela minha prima, colamos e coloquei o Menino Jesus no presépio.

Quando minha mãe chegou em casa olhando para mim, percebeu algo estranho e perguntou o que havia acontecido. Logo abracei as pernas dela comecei a chorar e disse que havia quebrado o Menino Jesus. Ela olhando para mim, levantou-me e deu um sorriso dizendo que não havia problema. Percebi naquele momento o verdadeiro valor da misericórdia, que nenhum livro de teologia me ensinou, aprendi ali, na simplicidade de minha mãe.

Na vida somos engaiolados com os nossos medos, nossas inseguranças.

Outro dia tive com minha amiga que teve sua irmã seqüestrado por 20 dias, imagine 20 dias uma pessoa sendo tratada como um nada, no escuro. Ali ela devia imaginar: “Será que eles vão pagar o meu resgate? Será que tenho este valor”?
A vida humana gira em torno do valor, a fonte de todos os desejos do ser humano é o desejo de ser desejado sempre.

O tempo todo passamos da experiência de sair da multidão e ser reconhecido como único. Ninguém deseja ser visto como uma multidão, mas individual. No momento do sequestro isto vem à tona, será que valho o valor que está sendo cobrado? Os maus tratos do cativeiro minam os conceitos que temos sobre nós mesmo. Não falo do sequestro do corpo, mas do sequestro da subjetividade, quando você depara com suas fragilidades e não sabe negociar, e vive como vítima sequestrada. Quantas pessoas nos metem medo só no olhar, isso não é amor. Quantas pessoas nos reprovam e nos levam para debaixo da mesa, para o cativeiro.

Há pessoas que nos roubam, que nos mandam para debaixo da mesa.Quantas vezes a vida lhe levou para debaixo da mesa? Quantas pessoas estão debaixo da mesa porque não tiveram coragem de enfrentar o “sequestrador”, de enfrentar os seus erros e fracassos. Se você não enxergar os seus erros e vê neles oportunidades de mudança você vai permanecer debaixo da mesa.

Quando você está no escuro e precisa de luz você olha a beleza da vela, ou se ela tem pavio? Pare de prestar atenção no que a vida vai fazer. Deixe a cera, olhe o pavio, olhe o essencial. O essencial é o pavio, é você, sua história. Pare de olhar a cera destruída, arranhada, olha o pavio que está pronto para iluminar, para queimar. E o que queima é vida nova. Ame-se! Não importa o que tenha acontecido em sua vida. Não olhe para aquilo que você perdeu, aquilo que foi estragado, olhe para o pavio

Deus não olha para multidão, Deus olha você. O olhar de Deus não desviou da sua vida nenhum instante.

Pode ser que hoje você tenha um passado horrível para ser arrumado, talvez você tenha medo de sair debaixo da mesa, mas Deus te convida a sair do seu cativeiro. Deus rompe todos os cativeiros possíveis.
PE FABIO DE MELO

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