segunda-feira, 23 de março de 2009
A carta (2)
Uma carta escrita em um momento de desespero assinalaria o final de uma existência. Entre prantos e lágrimas, eram narradas todas as dificuldades de uma jornada marcada por desilusões e infelicidades.
Finalmente acabaria com essa trajetória trágica, não mais haveria dor. Ficariam para trás todos aqueles que foram os seus algozes. Sim, não haveria outra saída para uma existência marcada por tanto sofrimento.
Contudo havia um problema, para quem escreveria aquela carta? Em meio a tanta dor, não se lembrava de um amigo. Aliás, se o tivesse, não precisaria recorrer a esse último recurso. Isto fortalecia sua decisão, não havia motivo para continuar, queria o descanso eterno.
Porém, o problema continuava: quem receberia sua carta? De repente, em meio ao seu desequilíbrio, teve uma idéia: colocaria no correio enviando para sua própria pessoa, e quando chegasse executaria a ação derradeira.
Saindo para o correio percebeu que o céu estava com um lindo azul e que algumas aves voavam apesar da poluição da cidade, não encontrando uma árvore sequer para os seus ninhos. Algumas flores, mesmo estando em terreno árido, insistiam em apresentar as suas cores.
Suas observações foram interrompidas por uma colisão. Batendo em uma pessoa que vinha em direção oposta derrubou a carta, a qual se misturou com tantas outras cartas que a pessoa trazia.
Pegou a carta e resmungando, "Nem para morrer se tem paz". Decidiu, então, não prosseguir para o correio, voltaria para casa e deixaria a carta exposta, testemunha de sua dor para quem a encontrasse.
Ao chegar em casa percebeu que aquela não era a sua carta; na colisão pegou a errada.
E agora, quais serão as suas últimas palavras?
Parou para ler a carta trocada e se espantou com o que encontrou.
A carta dizia:
"Meu Deus, como posso lhe agradecer a presença amorosa em todos esses anos de vida? É verdade que foram anos difíceis, mas nunca me abandonastes, mesmo nos momentos de dor e solidão sempre encontrei Sua presença, aliviando o meu fardo.
Hoje me arrependo por um dia ter pensado em pôr fim a minha vida, atentando contra Sua Lei esquecendo-me que a morte não existe.
Agora compreendo a necessidade de experiências difíceis para o meu crescimento. Por isso gostaria de fazer algo de bom. Pensei em escrever várias cartas pela cidade transmitindo o seu amor. Confio que me guiarás para chegar às pessoas que necessitam.
Estou feliz, não porque as dores acabaram, mas porque encontrei a Tua companhia e com ela vencerei todos os obstáculos.
Irmão que recebeste esta carta confie, ore e prossiga. Não existem males intermináveis e nem dores infinitas; a cada porta que se fecha novas luzes entram por outras janelas que se abrem.
Confie, Deus guiará o seu caminho, lhe retirando as estradas das trevas para o caminho da luz. Lembre-se que nenhuma ovelha se perderá".
Ao terminar a leitura chorou de arrependimento e conversou com o Pai de Infinita Misericórdia. Novas energias chegaram ao seu coração, que se acalentou. Então, percebeu que há muitos dias não abria as suas janelas, havia se fechado para a vida.
Correu e abriu as janelas, deixando a luz entrar e retomou a vida, agradecendo a Deus por ela e por aquela carta que lhe trouxera nova direção.
AUTOR DESCONHECIDO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário