quarta-feira, 21 de março de 2012
O Naufrago!
Estou pagando até hoje por uma dívida que fiz lá trás, por um ato impensado, agir por impulso, não exercer domínio próprio.
E não adianta querer culpar o banco por seus juros altíssimos; quando eu precisei, ele me atendeu. Agora devo e vou pagar.
Mas e quando devo pagar por algo que não foi causado por mim mesmo?
Vou mais além: E quando tenho que pagar por algo que não foi ocasionado por mim mesmo? E eu ainda alertei que poderia acontecer?
Conheci duas pessoas que eram sócias em um pequeno comércio que estava prestes a quebrar. Um deles pegou o dinheiro para pagar as contas e fugiu, deixando o negócio sem estoque, sem dinheiro e os fornecedores cobrando duplicatas vencidas. Durante muitos anos esta pessoa que ficou com o estabelecimento teve que colher frutos amargos desta sociedade. Teve que pagar até contas de coisas particulares do sócio que usou o nome da empresa para este fim.
Podemos dizer que ele escolheu o sócio errado, deu azar, não soube administrar, etc e tal. Mas não é aí que quero chegar, mas sim no fato de que ele teve que suportar algo que ele não causou, não diretamente.
Quantas famílias têm que suportar, por anos, problemas ocasionados por uma pessoa apenas. Uma traição, um envolvimento com drogas, uma prisão, um vírus da AIDS e tantas outras coisas que adentram as nossas portas sem bater e causam dor, choro e transtornos com os quais teremos que conviver durante anos, ou o resto de nossas vidas.
Em situações como essas, não adianta querer encontrar um culpado. Às vezes até temos o culpado. Mas ficar culpando ou cobrando não vai ajudar em nada; só vai piorar causando mais problemas
O que pode fazer diferença numa situação com esta é a posição que a pessoa se encontra. Ou seja, uma pessoa que já está em Cristo Jesus pode fazer toda a diferença.
Um episódio ocorrido com Paulo em Atos 27 pode nos ajudar a compreender um pouco sobre esta questão:
O local onde Paulo se encontra é chamado de Bons Portos, perto da cidade de Laséia.
Paulo tinha sido preso e junto com alguns outros presos estava entregue a um centurião por nome Júlio num navio rumo à Itália, navegando vagarosamente por muitos dias com dificuldades. E o vento não permitiu ir mais adiante, forçando-os a parar num lugar chamado "Bons Portos".
Agora Paulo estava seguro, estava em "Bons Portos". Mas não era isto que o piloto e o dono do navio pensavam. Eles decidiram continuar mesmo contra os ventos fortes.
Paulo os alerta dizendo-lhes: Senhores, vejo que a viagem vai ser com avaria e muita perda, não só para a carga e o navio, mas também para as nossas vidas.
Mas em que a voz de um prisioneiro faria diferença? O centurião dava mais crédito ao piloto e ao dono do navio do que às coisas que Paulo dizia.
Paulo não tinha outra opção a não ser continuar viagem, juntamente com eles, pois estava literalmente preso a eles. Não tinha uma segunda opção.
Fico a pensar como isso é comum em minha vida. Quantas vezes eu alerto pessoas próximas a mim que estamos indo navegar em águas perigosas, mas não me dão ouvidos, e mesmo assim sou obrigado a ir junto, pois estou preso a elas, preso no amor ou na situação em que me encontro.
Fico a pensar em quantas vezes fui alertado, mas por ter sido por uma pessoa em situação de desconsideração como a de Paulo, eu ignorei seus avisos.
Situações em nossas vidas colocam todos no mesmo barco enfrentando os mesmos riscos.
Éramos ao todo no navio duzentas e setenta e seis almas.
E o que mais Paulo temia aconteceu. Desencadeou-se ao lado da ilha um tufão chamado euro-aquilão e, sendo arrebatado o navio e não podendo navegar contra o vento, cederam à sua força e deixaram-se levar.
A coisa chegou a uma situação que não tinha mais controle. O navio ficou à deriva, totalmente na dependência de Deus. Não havia mais o que fazer.
Quantas vezes peguei-me em situação igual: todas as forças se esgotaram, não podia fazer mais nada, apenas um milagre poderia mudar a situação.
Mas ainda não iremos nos entregar… Jogue toda a carga ao mar.
É o que fazemos, vendemos alguns bens necessários para sobreviver mais um pouco; tentamos mais uma vez.
E ao terceiro dia, com as próprias mãos, lançaram os aparelhos do navio ao mar.
Ultima tentativa, lançamos mão do que era vital para continuar a viagem.
Não aparecendo por muitos dias nem sol nem estrelas, e sendo nós ainda abatidos por grande tempestade, fugiu-nos afinal toda a esperança de sermos salvos.
Nesta situação jogamos até a esperança ao mar…
Éramos ao todo no navio duzentas e setenta e seis almas…
Mas bendito seja o nome de nosso Deus, engrandecido seja eternamente Seu nome, louvores sejam dados a Ele sempre e sempre, pois a sua misericórdia dura para sempre. Pode uma mãe esquecer o filho que amamenta? Sim pode! Mas Deus não se esquece de um filho que ama. Ele move os céus e a terra se necessário para salvar um dos seus pequeninos.
Das duzentas e setenta e seis almas, uma delas fez a diferença. Todas no mesmo navio, na mesma condição, mas não aos olhos do Guarda de Israel.
Quantas vezes pude ver famílias sendo restauradas, sendo salvas, sendo colocadas em lugares seguros, porque um era filho(a), eleito(a) e amado(a).
Paulo já estava desfalecido juntamente com os outros, mas logo ele se colocou em pé e disse: Senhores, devíeis ter-me ouvido e não ter partido de Creta, para evitar esta avaria e perda. Mas tende bom ânimo porque esta noite me apareceu um anjo do Deus de quem eu sou e a quem sirvo, dizendo: NÃO TEMAS PAULO! Importa que compareças perante César, e eis que Deus te deu todos os que navegam contigo.
Deus tinha um propósito na vida de Paulo e iria cumprir. Independente das atitudes inconseqüentes que envolveram Paulo, Deus continuaria com seu plano.
Por mais difícil que pareça a situação em que me encontre, seja ela causada por mim mesmo ou por outros, Deus tem um plano para minha vida, plano de paz, e não de mal, para me dar um futuro e uma esperança.
O mais interessante é que Deus não tira Paulo daquela situação terrível, Ele manda seu anjo para animá-lo, assim com o fez com Elias quando (I Reis 19)"pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida".
Deus não tirou Elias de lá e nem Paulo aqui, mas mandou seus anjos com a sua santa palavra para animá-los.
Tenhais bom ânimo! Foi dito a Paulo, e "Levanta-te e come, porque demasiado longa te será a viagem" foi dito a Elias.
Deus não nos saca do fogo, mas está conosco no fogo, assim como esteve com os amigos de Daniel.
Ele nos anima com sua palavra, "Vamos filho! Levanta! Ainda terá que andar mais um pouco!"
Gosto de pensar que o pão que o anjo deu para Elias significava o nosso pão diário, a palavra, e a água, o Espírito Santo. É esta combinação que vai nos dar força para continuar.
Paulo chegou a terra seca finalmente, numa ilha que se chamava Malta. Quando pensou que tinha acabado o susto, uma víbora lhe picou a mão, mas o veneno não teve efeito.
Às vezes fico pensando se esta víbora não estava tentando destruir Paulo havia muito tempo, mas Deus mostrou que, nos seus filhos, o maligno não toca.
Aleluia! Vamos continuar! A palavra é bem clara: "ANIME-SE!".
Dorian Anderson Soutto
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